sábado, 8 de dezembro de 2012

Comentário sobre o conceito de Cibercultura 

Pierre Lévy, no seu livro "Cibercultura", pretende caraterizar esse outro espaço que habitamos (não territorial) denominado de ciberespaço ou rede. Levy definiu-o como "o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores", Levy (1999), p.92.
Este ciberespaço acompanha, traduz e favorece a evolução da sociedade.
Inserido neste contexto surge o conceito de cibercultura, esta aspira a universalidade, não por estar em toda a parte mas porque a sua ideia implica a existência de todos os seres humanos.
O objetivo fundamental da cibercultura é algo de supremo é a aspiração à inteligência coletiva, esta tornou-se, segundo Levy, o ideal mobilizador da informática, substituindo o da inteligência artificial.
A inteligência coletiva será um reflexo dos ideias do iluminismo pois pretende-se alcançar os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Todos nós somos livres e iguais para colaborar e há um verdadeiro espírito de fraternidade e colaboração.
No ciberespaço todos temos oportunidade de expressar as nossas opiniões, colaborar com os outros (mesmo que eles estejam fisicamente muito longe de nós) e podemos aprender autónoma e independentemente dos meios académicos. Desta forma, percursos de vida e competências adquiridas longe das escolas e dos centros de formação podem ser adquiridos e reconhecidos. Este é um aspeto fundamental, porque sabemos que, hoje em dia, a nossa formação não termina com a escolaridade obrigatória ou com uma licenciatura mas é um processo contínuo e se não queremos correr o risco de sermos ultrapassados ou até mesmo perder o emprego temos de manter uma formação contínua ao longo de toda a carreira.
Hoje, o saber não está limitado a ninguém. A cibercultura permite-nos aprender quando, como e o que queremos mas também permite-nos partilhar esse saber com os outros. A aprendizagem é sempre uma descoberta e não é por estarmos longe que não deixa de ser uma descoberta comum. 
Levy fala-nos das árvores de conhecimento, programas informáticos que permitem: a colaboração de todos, um melhor auto-conhecimento dos nossos próprios saberes, uma validação das competências que não foram reconhecidas pelos sistemas escolares. Desta forma são uma arma poderosa contra a exclusão e até  o desemprego. A cibercultura oferece grandes potencialidades e benefícios a nível económico, social e cultural.
São inúmeras as comunidades virtuais existentes que se debruçam sobre variados assuntos, qualquer que seja o nosso interesse poderemos encontrar no ciberespaço grupos de pessoas com interesses idênticos aos nossos, com quem podemos partilhar o nosso saber, aprender e aumentar o saber coletivo.
São variados os exemplos que podemos referir, por exemplo, o Facebook, a rede social mais conhecida e utilizada por todos, começou por ser apenas uma rede social onde as pessoas podiam conviver com os seus amigos mas atualmente encontramos vários grupos divididos por interesses. Assim, provavelmente, todos nós temos na nossas página vários grupos com quem partilhamos os nossos conhecimentos (que podem ir da culinária à física), existe uma partilha informal mas acessível a todos. Estes grupos no Facebook e noutras redes sociais têm ainda outra valência a ser tida em conta. É que esta partilha é independente dos meios de comunicação social habituais e acarretam mudanças culturais e sociais significativas. Basta dar o exemplo da maior manifestação ocorrida em Portugal. Começou por ser um movimento no ciberespaço e terminou nas ruas de todo o país. O ciberespaço é um lugar privilegiado para a mudança de mentalidades. O seu potencial social e cultural é enorme e ainda algo desconhecido para nós.
Outro exemplo que podemos focar é no ensino onde as novas tecnologias estão a alterar a postura do professor que cada vez mais é um dinamizador de novas aprendizagens e cada vez menos um mero transmissor de saber.
A Khan Academy (http://www.khanacademy.org/) surgiu com esse espírito, oferecer educação de alta qualidade, para qualquer um, em qualquer lugar. O portal dispõe de mais de 3000 vídeos (com cerca de 100 mil visualizações diárias). Em Portugal existem várias escolas que utilizam este tipo de material nas suas aulas (matemática, biologia, física e química). O objetivo de Khan está a ser construído: uma sala de aula global e mundial.
Por último temos o exemplo das Conferências TED (technology, entertainment, design). Estas conferências são apresentações feitas com o objetivo de transmitir ideias que merecem ser divulgadas, através de vídeos disponíveis no site. Para além deste aspeto global ainda existe o projeto TEDx que tem um âmbito mais restrito e local (a título de exemplo o primeiro TEDx organizado em Portugal, ocorreu em 2009). No site da TED podemos ainda entrar nas várias comunidades virtuais e discutir os temas apresentados.

Referências:
Levy, 1999, Cibercultura (Irineu Costa, trad.), São Paulo, Editora 34.